Descobre a história da natação no mundo, desde as origens até ao desenvolvimento da natação desportiva e a sua introdução em campeonatos internacionais.
A natação está longe de ser um desporto recente! Desenvolveu-se e democratizou-se, ao longo de séculos, a ritmos muito diferentes em função do continente. Quando surgiu? Que países foram seus precursores?
Antes de mais, é preciso estabelecer algumas definições, nomeadamente para distinguir natação de natação desportiva. Porque, efetivamente, são termos muito diferentes. A natação é um desporto que consiste em realizar movimentos regulares e repetitivos na água com o objetivo de nos movermos. Uma definição muito teórica, talvez? Pode ser, mas permite distingui-la devidamente da natação dita desportiva. Esta última consiste em percorrer uma dada distância no menor tempo possível, em piscina e sem ajuda de acessórios, num estilo codificado pela Federação Internacional da Natação (FINA). Agora que já sabes, vamos contar-vos a história da natação passo a passo!
A história da natação remonta à...Pré-história! Pode-se, com efeito, imaginar que os primeiros contornos desta disciplina tenham surgido neste período, ainda que não haja nenhum texto ou documento para o atestar. Contudo, certo é que, por maior que seja a probabilidade de o Homem ter sabido nadar na altura, os seus estilos de nado tinham de ser muito diferentes dos nossos estilos codificados de hoje! Para sobreviver, o Homem pré-histórico precisava de ser bom caminhante, corredor, escalador e... nadador. Era uma questão de sobrevivência. Nadar representa, aqui, o simples facto de se deslocar no meio aquático. Algumas pinturas rupestres no Egito atestam que os humanos praticavam alguma forma de natação há mais de 6000 anos!
Os primeiros documentos que comprovam a existência da natação na história datam de 4500 a.C. e são oriundos da Grécia, do Egito, de Roma e da Assíria. Ouvimos frequentemente falar, sobretudo, das proezas aquáticas da mitologia grega… Proezas que eram muitas vezes realizadas para ir ao encontro do amante a nado! Um pouco de romantismo na história da natação não faz mal a ninguém. ;)
Nesta época, os Jogos Olímpicos estavam longe de introduzir a natação no seu programa. No entanto, vemos aparecer o que poderá ter correspondido às primeiras formas de competição de natação em Roma, nomeadamente no Coliseu. Como prova, há retratos de romanos a avançar dentro de água em vários mosaicos.
A natação figura igualmente em contos e lendas. Rezam histórias da época que heróis escaparam a naufrágios nadando vários quilómetros até chegarem à margem… Mito ou realidade, nunca teremos a resposta, por isso são livres de formar uma opinião sobre o assunto. ;)
É no séc. I a.C. que surgem as primeiras termas abertas ao público. Vão-se espalhando pouco a pouco por todo o Império e tornando uma característica emblemática da cultura e vida romana da Antiguidade. Esta prática rapidamente se democratiza e não se reserva aos mais ricos. De facto, até as cidades mais pequenas possuem um ou mais estabelecimentos térmicos. Os banhos constituem momentos de lazer, de descontração, mas também de cuidados de higiene. Fazem-se rituais de banho e massagens.
No início da Idade Média, a natação nem sempre é considerada como desporto, mas sim como prática lúdica. Vai-se aos banhos para se descontrair. É um momento de prazer para cuidar de si mesmo.
A aprendizagem da natação vai surgindo pouco a pouco, nomeadamente porque integra a formação dos cavaleiros, a par do manejo de armas e do tiro com arco. Segundo textos datados da Idade Média, para se ser cavaleiro, é preciso nadar. No Ocidente, um cavaleiro tem de saber nadar, mas o mesmo sucede em países asiáticos e, em particular, no Japão. Foi, aliás, o primeiro país a fundar uma associação nacional da natação desportiva. É em 1603, na sequência de um decreto imperial, que a natação se torna parte integrante do programa escolar japonês. A prática de natação era vivamente encorajada por competições interescolares. O Japão mantém, ainda hoje, um lugar preponderante no domínio da natação desportiva e podemos constatar que se continuam a realizar inúmeros eventos de natação com regularidade.
Começa-se gradualmente a falar de natação como "a arte de nadar”. Em Roma, a natação era uma garantia de conhecimento e fazia parte integrante da educação dos nobres, como aprendemos desde muito cedo. Para se manter uma boa reputação, era conveniente saber nadar. Dizia-se mesmo, de alguém inculto, que não sabia "nem ler, nem nadar"!
As primeiras obras totalmente dedicadas à natação surgiram no Renascimento (a partir do séc. XVI). Encontram-se, por exemplo, temáticas como: como replicar os movimentos de animais aquáticos ou como vencer o medo de águas profundas. O tratado De Arte Natandi (entende-se: o tratado da arte de nadar) publicado em 1587 é considerado o primeiro tratado sobre a prática de natação. A natação também figura em romances, como no célebre livro Gargântua.
Ao longo dos séculos, a natação lúdica foi-se transformando numa autêntica disciplina desportiva, originando aquilo a que chamamos de “natação moderna”.
Em França, todas as funções atribuídas à natação são exclusivamente utilitárias: no contexto militar, higiénico, terapêutico e, por fim, educativo. Para terem uma ideia de a que se assemelhava o nado na altura, falava-se do "nado à cão", do "nado à rã", do nado de costas ou de "fazer a prancha". Eram técnicas que contribuíam para a formação dos soldados. O ensino da natação no contexto militar enquadra-se e desenvolve-se em três etapas: os movimentos elementares, que são movimentos de ginástica; a “natação à superfície”, em que se efetuam movimentos ao ar livre; a “natação na água” onde se reproduzem os mesmos movimentos dentro de água. A aprendizagem da natação escolar recupera as mesmas etapas.
A primeira grande viragem na natação moderna teve lugar nos países anglo-saxónicos. Foi a partir de 1837, na Inglaterra, que começaram a ser realizadas as primeiras competições de natação desportiva, organizadas pela National Swimming Association. Podemos dizer que a Inglaterra se tornou no berço da natação moderna. Lá, a prática da natação era muito desenvolvida e já existiam em Londres piscinas cobertas e aquecidas. As primeiras competições organizadas foram as competições de bruços. Este modo de construir piscinas aquecidas e cobertas rapidamente se alastrou às colónias britânicas, nomeadamente à Austrália.
Foi, aliás, na Austrália, especificamente em Sydney em 1846, que teve lugar o primeiro campeonato de natação moderna. O vencedor foi W. Redman, que nadou os 440 yards em 8 minutos e 43 segundos. Sabendo que 1 yard = 0,914m, deixamos-vos fazer os cálculos da distância percorrida. ;)
Alguns anos mais tarde, ainda na Austrália, em 1858, na região de Melbourne, decorreu a primeira competição de cariz internacional, designada por campeonato do mundo da natação. A distância a percorrer pelos nadadores era de 100 yards. O campeonato foi vencido por… Um australiano! Adivinham a nacionalidade do nadador que lhe seguiu? Certo, foi um inglês. Atendendo à origem da natação desportiva, torna-se evidente aqui que estes dois países continuam à época a ser os pioneiros desta prática.
Esta disciplina continua a evoluir até ao seu reconhecimento oficial em 1869 na Grã-Bretanha (sim, ainda a Grã-Bretanha). A primeira federação de clubes de natação nasceu em 7 de janeiro de 1869, em Londres, tendo por objetivo criar uma associação que estabeleceria as regras da natação.
Seria preciso esperar até 1896 para os Jogos Olímpicos, que tinham lugar em Atenas, incluírem provas de natação. Uma grande data para a história da natação desportiva! No programa, havia 3 provas de nado: uma de 100 metros, uma de 500 metros e uma de 1200 metros. E, já agora, pequena nota: as provas decorriam, na altura, no mar e eram reservadas aos homens! As mulheres tiveram de participar nos Jogos de Estocolmo em 1912 para poder competir nessas provas. Nos primeiros Jogos Olímpicos, os nadadores deslocavam-se em crol ou em bruços, o nado de costas só integraria o regulamento em 1904 e o de mariposa em 1956.
Estas datas-chave assinalam a importância crescente desta prática desportiva por todo o mundo no séc. XX:
- 19 de julho de 1908 Nascimento da FINA, em Londres, pela iniciativa de participantes da IV edição dos Jogos Olímpicos. Esta federação fica encarregada de estabelecer as regras da natação desportiva e do polo aquático, de oficializar pontuações e de organizar o planeamento olímpico.
- 1973: Os primeiros campeonatos do mundo decorreram em Belgrado e reuniram a natação desportiva, o polo aquático e os saltos.
- 1984: A natação sincronizada começa a fazer parte dos JO que na altura tiveram lugar em Los Angeles.
- 2013: A FINA acolhe oficialmente a prova de estafetas mistas no seu programa. As primeiras estafetas mistas tiveram lugar em Doha em 2014.
Por fim, para terminar, uma temática a rever: os estilos oficiais, praticados em competições. Existem vários tipos e estilos de nado, mais ou menos oficializados, mas apenas 4 estilos são aceites e praticados em competição: o estilo livre (também conhecido por crol), bruços, costas e mariposa.
As distâncias a realizar nas provas variam em função dos estilos. Podem realizar-se 50 metros, 100 metros e 200 metros de costas, mariposa ou bruços. O estilo livre, por seu lado, pode ser realizado nas mesmas distâncias, mas também em provas de 400 metros, 800 metros e, finalmente, 1500 metros. Por fim, também existem provas que combinam os 4 estilos (nesta ordem: mariposa, costas, bruços, crol) em distâncias de 200 metros ou 400 metros.
O crol é um estilo utilizado nas competições de estilo livre. É um estilo muito rápido, com movimentos alternados. É o único estilo que não é regulamentado pela FINA! O objetivo é ser possível dar largas à experimentação e a novas técnicas de nado, para avançar o mais rápido possível sem ser perturbado pelo constrangimento das codificações.
Disciplina precursora desde os primeiros Jogos Olímpicos, foi durante muito tempo praticada em estilo livre antes de ser definida e codificada de forma oficinal. É um estilo simétrico, assente na coordenação dos braços e pernas e que se realiza de barriga para baixo. É um dos estilos mais exigentes de um ponto de vista regulamentar em competições de natação.
À semelhança do crol, é um estilo com movimentos alternados. Como o nome indica, realiza-se exclusivamente de costas e resulta de pernadas e movimentos de braços alternados com recuperação aérea.
É o mais jovem dos estilos reconhecidos pela FINA. À semelhança da técnica de bruços, a mariposa é uma técnica de nado em decúbito ventral e simétrico. É a segunda técnica de nado mais rápida a seguir ao crol, mas também é uma das mais difíceis de dominar.
O nado e a relação do homem com a água foi sofrendo várias transformações. Inicialmente essencial à sobrevivência, o nado tornou-se posteriormente num pré-requisito para se ser bom cavaleiro ou bom soldado. Além disso, as noções de banho, de prazer e de descontração surgiram e foram tendendo gradualmente para a prática da natação desportiva tal qual a conhecemos hoje. Seja um momento de lazer, de descontração, de desporto ou de competição, a natação continua a ser uma modalidade com inúmeros benefícios, tanto físicos como psicológicos. A sua história deixa de ser um mistério para vocês! :)