Etologia... uma palavra que ouvimos muitas vezes no centro hípico. O filme "O encantador de cavalos" já falava nesta prática há (já) 20 anos.
Como iremos ver a seguir, e para além da ficção, trata-se de uma genuína abordagem, uma forma de entender o cavalo e a equitação. Não se trata aqui de números de circo ou de cavalos inteligentes (embora a etologia lhe permita ensinar mais facilmente o seu cavalo a levantar a perna anterior em gesto de cumprimento!).
A palavra etologia significa em grego "ciência do comportamento", sendo Ethos a palavra que designa comportamento e Logos a palavra que designa ciência. Para simplificar, etologia é o estudo dos comportamentos dos animais (incluindo os humanos!).
Visa compreender não só por que razão um determinado animal tem um determinado comportamento, mas também qual foi o motivo desse comportamento.
Aplicado ao mundo do cavalo, o sentido da palavra "etologia" é ligeiramente diferente. Trata-se, naturalmente, de estudar o comportamento do cavalo, compreender as suas posturas, os seus movimentos, como se comporta sozinho, em manada ou com os humanos, por exemplo. Resumindo, iremos aprender a "ler o cavalo" e praticar equitação no a pé e montado falando "a sua linguagem".
Importa fazer a distinção entre o etólogo "científico", que estudam o comportamento no sentido lato, e o praticante de equitação etológica, que irá pôr em prática os resultados da ciência com os cavalos. Ambos trabalham ao fim e ao cabo em conjunto.
Nos seus procedimentos diários, deverá seguir a regra dos 3 C: Confiança, Controlo e Conexão. Encontrar o bom equilíbrio entre confiança e controlo nem sempre é fácil, mas permitirá evoluir em segurança com a sua montada.
Porque sem controlo, o seu cavalo acabará por o confundir como o seu melhor amigo e não o respeitará, mesmo que tenha confiança em si.
E sem confiança, correrá o risco de manter um controlo frio, tomando o cavalo como um "escravo" e não como um "parceiro".
Não convém, naturalmente, que o cavalo tenha medo de si. Por último, é preciso estabelecer uma conexão com o seu cavalo, de modo a que este tenha sempre ouvidos e olhos para si. O cavalo deverá estar sempre atento e à escuta das suas mais leves solicitações.
Com uma abordagem etológica, irá observar, compreender e comunicar mais facilmente com o seu cavalo. Será criada uma verdadeira relação de confiança. Com essa confiança virá uma maior segurança, tanto no trabalho a pé como em sela. Poderá aplicar essa abordagem para meter facilmente o seu cavalo no atrelado ou camião de transporte. Evitará ainda que o seu cavalo ganhe vontade própria e o arraste pela guia para ir ter com os seus companheiros no pasto. Existem inúmeros exercícios de dessensibilização (lona, bidé, dessensibilização com spray...) que ajudam o cavalo a manter-se calmo em situações em que normalmente ficaria mais perturbado. E isso não tem preço! Para acabar com situações de stresse quando se cruzar com um trator e tiver de dar meia-volta porque o seu cavalo sempre teve medo de tratores.
Aprender a compreender o seu cavalo e a ouvi-lo significa também um cavalo mais descontraído durante uma prova, mais recetivo, para um melhor desempenho. Mesmo durante os treinos, observe o seu cavalo para ver se este é mais introvertido ou extrovertido, a fim de definir um treino mais personalizado: alguns preferem alguma rotina, enquanto outros necessitam de estar constantemente confrontados com novidades para ficar motivados! Ao fim e ao cabo, os cavalos acabam por ser parecidos connosco!
~
Se calhar, nos seus gestos do dia a dia, já estará a praticar equitação etológica sem o saber. Não é preciso montar sem sela e sem rédeas! Fazer com que o cavalo respeite o seu espaço (definido pela distância equivalente ao comprimento do seu braço), no qual não poderá penetrar sem ser convidado, já é de certa forma praticar equitação etológica e ganhar uma grande margem de segurança!
VONTADE DE SE INICIAR? Não precisa de investir muito em equipamentos para começar. Um cabeção etológico, ou um cabeção com nós e uma guia com comprimento suficiente chegarão (com pelo menos 3,7m, embora existam mais compridas!). Atenção, o cabeção com nós é muito mais penalizador que um cabeção plano e exerce uma ação mais forte na cabeça do cavalo. Não deve ser utilizado para prender o cavalo!
Aconselho a começar pelos 7 jogos de Parelli, sendo o primeiro: o jogo da amizade. No solo, junto do cavalo, faça festas em todo o seu corpo, incluindo as orelhas! Um cavalo que deixa o cavaleiro tocar-lhe em todo o corpo será um cavalo mais sereno durante as visitas do veterinário e que, por exemplo, não levantará a cabeça no momento de colocar a cabeçada. Resumindo: será um cavalo mais fácil no dia a dia e, sobretudo, mais feliz! E quando o cavalo está feliz, nós também ficamos felizes :)
Existem muitos métodos diferentes. Informe-se o melhor possível e recorra apenas a profissionais devidamente reconhecidos. Verifique se concluíram um Curso de Formação Etológica (equivalente em etologia ao certificado de Galope) ou se possuem diplomas equivalentes e reconhecidos em França ou no estrangeiro (os certificados emitidos nos Estados Unidos têm um nível bastante avançado neste domínio).
Por último, é frequente ouvirmos que a etologia é uma coisa muito bonita, mas é preciso ter o seu próprio cavalo. Se tiver aulas de equitação com um cavalo partilhado com outros alunos, nada o impede de falar com o proprietário acerca desta aprendizagem etológica, mas caberá a este decidir em última análise se o autoriza a utilizar este método. Se praticar num clube, poderá tentar dessensibilizar esse cavalo um pouco comichoso no momento de o aparelhar, com ajuda do seu monitor ou monitora. Se estiver a iniciar-se neste método, é muito importante contar com um acompanhamento ;)
Do que está à espera para se lançar?