relógio cardio

O cardio em poucas palavras...

Hoje em dia, a frequência cardíaca é um indicador fiável extremamente bem monitorizado não só no âmbito da medicina, mas também do desporto e da atividade física, permitindo definir a sua programação de treino e, em certos casos, monitorizar os progressos.                

Mas sabe verdadeiramente o que é o coração e como este funciona para orquestrar toda a mecânica do organismo?

Em primeiro lugar, o coração é um músculo, tal como os músculos estriados esqueléticos (bíceps, quadríceps…) e os músculos lisos (no estômago, nos vasos sanguíneos), ao qual chamamos também músculo cardíaco.

1. O papel do coração no sistema cardiovascular

O coração faz parte do sistema cardiovascular, composto por uma bomba (o coração), um sistema de canais (os vasos sanguíneos) e um líquido circulante (o sangue).

 

Este sistema cardiovascular é essencial ao bom funcionamento do organismo, pois assegura 6 funções essenciais, nomeadamente:

> Fornecimento de oxigénio e nutrientes

> Eliminação do CO2 e dos resíduos metabólicos

> Transporte de hormonas

> Regulação térmica

> Regulação do equilíbrio ácido-básico do organismo e dos fluidos corporais

> Função imunitária

 

O coração desempenha portanto um papel essencial na circulação sanguínea, ao permitir o envio regular do sangue para o organismo.

2. O coração, apenas uma bomba?

O coração é composto por 2 aurículas que recebem o sangue e 2 ventrículos que o ejetam:~> A aurícula direita (1) recebe o sangue, carregado de resíduos metabólicos.            ~> Transfere-o para o ventrículo direito (3), que o envia para os pulmões, para que seja purificado e reoxigenado.~> A aurícula esquerda (2) recebe dos pulmões o sangue oxigenado e carregado de nutrientes.~> Transfere-o para o ventrículo esquerdo (4), que se encarrega de o enviar para todo o organismo.              ~> Estas diversas ações são realizadas pela parte muscular do coração, o miocárdio (5). Este permite ao coração contrair-se de modo a funcionar como uma bomba contínua.

O CARDIO EM POUCAS PALAVRAS...

O coração

1: Aurícula direita      
2: Aurícula esquerda
3: Ventrículo direito
4: Ventrículo esquerdo
5: Miocárdio

Seta vermelha: percurso do sangue oxigenado e carregado de nutrientes proveniente dos pulmões

Seta azul: percurso do sangue desoxigenado e carregado de resíduos metabólicos provenientes do organismo

O coração é capaz de se contrair sem a ajuda do sistema nervoso, a um ritmo natural de cerca de 100 bpm.   ~Contudo, é regulado por estímulos nervosos ou hormonais que adaptam as contrações às necessidades fisiológicas.                 

~Para ilustrar a importância desta regulação, tomemos o exemplo de um transplante cardíaco em que o coração transplantado se contrai naturalmente a um ritmo de 70 a 110 bpm pelo facto de certos sistemas de autorregulação não poderem ter sido reconetados durante a operação.

3. A regulação cardíaca - para que serve?

O coração adeqúa o número de batimentos por minuto (bpm) em função do corpo e/ou dos estímulos exteriores. Se as necessidades de oxigénio e nutrientes forem elevadas, a frequência cardíaca (FC) aumenta até atingir eventualmente a FC máxima. Em contrapartida, em situação de repouso, a FC aproxima-se da FC de repouso. Em situações de stress ou de consumo de substâncias estimulantes (cafeína), a FC também pode aumentar.

 

O organismo dispõe de três sistemas que influenciam a frequência cardíaca:

> O sistema nervoso parassimpático, que permite reduzir a frequência cardíaca e é predominante quando a FC é inferior a 100 bpm.

> O sistema nervoso simpático, que permite aumentar a frequência cardíaca e é predominante quando a FC é superior a 100 bpm.

> O sistema endócrino, que liberta hormonas que permitem também estimular a FC.

4. A influência do desporto e da atividade física

O desporto ou a atividade física implicam adaptações cardiovasculares. Com efeito, o aumento da carga de treino ou da intensidade implica um aumento das necessidades de oxigénio. Para suportar o esforço, o corpo adapta-se às necessidades de oxigénio do organismo.

 

Verifica-se, entre outros:

> Um aumento da massa e do volume do coração.

> Uma diminuição da frequência cardíaca em repouso.

> Uma diminuição da FC em situação de exercício moderado/intenso.

> Um aumento do volume de ejeção sistólica* e do débito cardíaco máximo*.

5. O sensor de frequência cardíaca é um instrumento útil?

O instrumento mais fácil de utilizar para medir a FC é o sensor de frequência cardíaca. Mede a atividade elétrica do coração e indica o número de batimentos por minuto. Permite orientar melhor o treino e assegurar um acompanhamento dos progressos.~Desenvolvido de origem para o ambiente médico e para as situações desportivas de alto nível, hoje em dia a sua utilização generalizou-se, quer devido à facilidade de utilização, quer devido ao preço.

  

As tecnologias utilizadas hoje em dia são o cinto cardio bluetooth, sozinho (ou integrado num suporte têxtil) e conetado a um relógio recetor ou a uma aplicação smartphone, e os relógios cardio-óticos. Estes últimos determinam a FC no pulso, medindo as variações de pressão sanguínea nos capilares da pele.

 

Cada vez mais eficazes, alguns sensores de frequência cardíaca conseguem já medir a variabilidade da frequência cardíaca (HRV).               ~A HRV corresponde ao lapso de tempo entre cada batimento do coração, estando a FC relativamente estável. Este lapso de tempo revela-se ligeiramente irregular e é um reflexo da ação dos diferentes sistemas de regulação cardíaca.~Associa-se uma fraca HRV a um estado relevante de stress psicológico, sendo considerada um fator de risco acrescido de doença cardiovascular, de ataque cardíaco e de morte súbita. Também é possível obter indicações sobre o nível de fadiga e sobre a qualidade do sono.

Tanguy davin

Engenheiro de Investigação e Desenvolvimento da Decathlon Sportslab

Definições

Volume de ejeção sistólica (VES): volume de sangue ejetado por cada ventrículo durante a sua contração.

Débito cardíaco: volume de sangue total ejetado pelo ventrículo num minuto,

Débito cardíaco = FC * VES.

Bibliografia

- ACHTEN, Juul e JEUKENDRUP, Asker E. Heart rate monitoring. Sports medicine, 2003, vol. 33, n.º 7, p. 517-538.

- COSTILL, David L. e WILMORE, Jack H. Physiologie du sport et de l'exercice: adaptations physiologiques à l'exercice physique. De Boeck Supérieur, 2006.

- SERVANT, D., LEBEAU, J. C., MOUSTER, Y., et al. La variabilité cardiaque: un bon indicateur de la régulation des émotions. Journal de thérapie comportementale et cognitive, 2008, vol. 18, n.º 2, p. 45-48.